Depois de ter escrito a trilogia de artigos sobre o upgrade de Deus, do crente e da igreja para a versão 2.0, tenho descoberto também que o Deus da versão original, como Criador, Proprietário, Salvador e Mantenedor da criação já se torna desnecessário.
A impressão que me dá é que muitos pregadores e igrejas contemporâneos chegaram a tal nível de auto-suficiência e “controle” sobre os fenômenos transcendentes e espirituais que já não precisam mais de Deus e quando o invocam é para transformá-lo em office-boy e garçom para atender a demanda que algum “cliente” da igreja precise para lhe dar riqueza, resolver alguma mazela financeiro-patrimonial ou reagir às bactérias, vírus ou doença sob o comando de algum pastor-despachante que, para prestar o serviço de intermediação, sem dúvida cobrará a respectiva contribuição ou taxa de serviços. Deus, assim, se transforma num prestador de serviços. Me lembro que um líder de uma dessas igrejas foi enfático na hora de intervalo publicitário de seus programas: “A nossa igreja funciona, pois nos sabemos como colocar Deus para trabalhar para você!”, o que ele não disse é que esse Deus é o da versão 2.0 e que esse agenciamento tinha um custo, pois era preciso pagar o sacrifício.
Mas não é somente isso, tenho percebido que muitas igrejas históricas também têm deixado Deus, o da versão 1.0, de lado. Na verdade o que ocorre é que se tem transformado o Cristianismo e o reino de Deus apenas em trabalho na igreja, em atividades frenéticas de modo a converter o domingo, um dia de celebração e descanso, em dia de cansaço. O ativismo em muitas igrejas é tal que acaba impedindo o crente a ter tempo de viver a sua espiritualidade, a vida devocional e as orações passam a ser meramente rituais e formais.
Neste caso a situação é mais grave. Entre os anos de 1997 e 2000 fiz uma pesquisa abordando cerca de 8,5% de um grupo de 6 mil pastores e foi possível obter dados assustadores. Entre estes dados, podemos destacar que 77% não estava contente e satisfeito com o tempo que investia na vida devocional; 62% não realizava culto doméstico regularmente em seu lar; 78% não estava satisfeito com a auto-disciplina no uso do seu tempo.
Em resumo, a impressão que se dá é que o líder está tão envolvido na obra de Deus que não tem tempo de se envolver com o Deus da obra. O pastor está fazendo visitas, pregando sermões, fazendo reuniões de planejamento e tantas outras coisas na igreja que acaba não tendo tempo para investir em sua vida devocional e no seu culto doméstico. Como pregar e falar sobre Deus sem tempo de estar com Deus?No caso do ativismo eclesiástico, é preciso considerar quantas famílias acabam sendo fragmentadas com a desculpa de que a obra de Deus é prioritária, desprezando-se as prioridades de Deus (o da versão 1.0) para a vida. O evangelho 2.0 de fato não precisa mais do Deus da versão 1.0, ele é incompatível com o novo upgrade.
Lourenço Stelio Rega
é teologo, educador e escritor.
Fonte : Revista Eclésia
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